quarta-feira, 19 de setembro de 2012

O mundo que a gente quer e o paradigma de Boaventura de Souza Santos


Segundo Boaventura de Souza Campos, o paradigma de um Conhecimento Prudente para uma Vida Decente significa que a “natureza da revolução científica, que dá forma e sentido à real sociedade do conhecimento, é estruturalmente diferente da que ocorreu no século XVI, já que essa é uma revolução científica que ocorre numa sociedade ela própria revolucionada pela ciência. O paradigma que dela emerge não pode ser apenas um paradigma científico (o paradigma de um conhecimento prudente), tem de ser também um paradigma social (o paradigma de uma vida decente)”.
                Quando defendeu este paradigma, Santos dissertou que os avanços recentes da física e da biologia põem em julgamento a distinção entre orgânico e inorgânico, entre seres vivos e matéria inerte e mesmo entre o humano e o não humano. As características da auto-organização, do metabolismo e da auto reprodução, antes consideradas específicas dos seres vivos, são hoje atribuídas aos sistemas pré-celulares de moléculas, e assim tanto em um como no outro, se reconhecem propriedades e comportamentos antes considerados específicos dos seres humanos e das relações sociais.
                Ainda segundo Santos:
“A concepção humanística das ciências sociais enquanto agente catalisador da progressiva fusão das ciências naturais e sociais coloca a pessoa, enquanto autor e sujeito do mundo, no centro do conhecimento mas ao contrário das humanidades tradicionais, coloca o que hoje designamos por natureza no centro da pessoa. Não há natureza humana porque toda a natureza é humana. É pois necessário descobrir categorias de inteligibilidade globais, conceitos quentes que derretam as fronteiras em que a ciência moderna dividiu e encerrou a realidade. (...) Não virá longe o dia em que a física das partículas nos fale do jogo entre as partículas, ou a biologia nos fale do teatro molecular ou a astrofísica do texto celestial, ou ainda a química da biografia das reações químicas. Cada uma desta analogias desvela uma ponta do mundo. A nudez total, que será sempre a de quem se vê no que vê, resultará das configurações de analogias que soubermos imaginar, afinal, o jogo pressupõe um palco, o palco exercita-se com um texto e o texto é a autobiografia do seu autor. Jogo, palco, texto ou biografia, o mundo é comunicação e por isso a lógica existencial da ciência pós-moderna é comunicação e por isso a lógica existencial da ciência pós-moderna é promover a situação comunicativa, tal como Habermas a concebe. Nessa situação confluem sentidos das nossas práticas locais a arrastando consigo as areias dos nossos percursos moleculares, individuais, comunitários, sociais e planetários. Não se trará de um amálgama do sentido (que não seria sentido mas ruído), mas antes de interações e de intertextualidades organizadas em torno de projetos locais de conhecimento indiviso.”

Na ciência moderna o conhecimento avança pela especialização. O conhecimento é tanto mais rigoroso quanto mais restrito é o objeto que incide. Nisso reside o que hoje se reconhece ser o dilema básico da ciência moderna: o seu rigor aumenta na proporção direta da arbitrariedade com que comprime o real. Sendo um conhecimento disciplinar, tende a ser um conhecimento disciplinado, ou seja, segrega uma organização do saber orientada para policiar as fronteiras entre as disciplinas e reprimir os que as quiserem transpor. É hoje reconhecido que a excessiva separação e compartimentação do saber científico faz do cientista um ignorante especializado. No novo paradigma o conhecimento é total, tem como horizonte a totalidade universal de que fala Wigner ou a totalidade indivisa de que fala Bohm. Mas sendo total, também é local (Santos, 2007).
Mas o que isso tem a ver com o mundo que a gente quer? A resposta é mais simples e direta do que muita gente suspeita, já que estamos acostumados com o mundo complicado em que vivemos e não com a simplicidade que a própria vida oferece. Gosto muito de usar a seguinte analogia: se eu jogo lixo no chão, ao invés de jogá-lo na lixeira ou até reciclá-lo, eu estou escolhendo viver em um mundo cheio de lixo, sujo, já que o chão faz parte do meu mundo e do meu universo. O mesmo princípio se aplica a todas as escolhas que fazemos, consciente ou inconscientemente. E isto foi provado através da Física Quântica. 
Assim, se quisermos que a nossa vida mude para melhor, temos que repensar todas as nossas atitudes, todas as nossas escolhas e decidirmos quais são as alternativas para uma vida melhor, ou seja, uma Vida Decente.
Tentei pontuar os principais pontos da finalidade deste blog nesta postagem e assim esclarecer melhor a nossa postura! 
Comentem, tirem dúvidas, critiquem. Qualquer interação é bem vinda!

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