Segundo Boaventura
de Souza Campos, o paradigma de um Conhecimento Prudente para uma Vida Decente significa que a “natureza da revolução científica, que dá forma e
sentido à real sociedade do conhecimento, é estruturalmente diferente da que
ocorreu no século XVI, já que essa é uma revolução científica que ocorre numa
sociedade ela própria revolucionada pela ciência. O paradigma que dela emerge não
pode ser apenas um paradigma científico (o paradigma de um conhecimento
prudente), tem de ser também um paradigma social (o paradigma de uma vida
decente)”.
Quando
defendeu este paradigma, Santos dissertou que os avanços recentes da física e da
biologia põem em julgamento a distinção entre orgânico e inorgânico, entre
seres vivos e matéria inerte e mesmo entre o humano e o não humano. As
características da auto-organização, do metabolismo e da auto reprodução, antes
consideradas específicas dos seres vivos, são hoje atribuídas aos sistemas
pré-celulares de moléculas, e assim tanto em um como no outro, se reconhecem
propriedades e comportamentos antes considerados específicos dos seres humanos
e das relações sociais.
Ainda
segundo Santos:
“A concepção humanística das ciências sociais enquanto agente catalisador
da progressiva fusão das ciências naturais e sociais coloca a pessoa, enquanto
autor e sujeito do mundo, no centro do conhecimento mas ao contrário das
humanidades tradicionais, coloca o que hoje designamos por natureza no centro
da pessoa. Não há natureza humana porque toda a natureza é humana. É pois
necessário descobrir categorias de inteligibilidade globais, conceitos quentes
que derretam as fronteiras em que a ciência moderna dividiu e encerrou a
realidade. (...) Não virá longe o dia em que a física das partículas nos fale
do jogo entre as partículas, ou a biologia nos fale do teatro molecular ou a
astrofísica do texto celestial, ou ainda a química da biografia das reações
químicas. Cada uma desta analogias desvela uma ponta do mundo. A nudez total,
que será sempre a de quem se vê no que vê, resultará das configurações de
analogias que soubermos imaginar, afinal, o jogo pressupõe um palco, o palco
exercita-se com um texto e o texto é a autobiografia do seu autor. Jogo, palco,
texto ou biografia, o mundo é comunicação e por isso a lógica existencial da
ciência pós-moderna é comunicação e por isso a lógica existencial da ciência
pós-moderna é promover a situação comunicativa, tal como Habermas a concebe. Nessa situação confluem
sentidos das nossas práticas locais a arrastando consigo as areias dos nossos
percursos moleculares, individuais, comunitários, sociais e planetários. Não se
trará de um amálgama do sentido (que não seria sentido mas ruído), mas antes de
interações e de intertextualidades organizadas em torno de projetos locais de
conhecimento indiviso.”
Na ciência
moderna o conhecimento avança pela especialização. O conhecimento é tanto mais
rigoroso quanto mais restrito é o objeto que incide. Nisso reside o que hoje se
reconhece ser o dilema básico da ciência moderna: o seu rigor aumenta na
proporção direta da arbitrariedade com que comprime o real. Sendo um
conhecimento disciplinar, tende a ser um conhecimento disciplinado, ou seja,
segrega uma organização do saber orientada para policiar as fronteiras entre as
disciplinas e reprimir os que as quiserem transpor. É hoje reconhecido que a
excessiva separação e compartimentação do saber científico faz do cientista um
ignorante especializado. No novo paradigma o conhecimento é total, tem como
horizonte a totalidade universal de que fala Wigner ou a totalidade indivisa de
que fala Bohm. Mas sendo total, também é local (Santos, 2007).
Mas o que isso tem a ver com o mundo que a gente quer? A resposta é mais simples e direta do que muita gente suspeita, já que estamos acostumados com o mundo complicado em que vivemos e não com a simplicidade que a própria vida oferece. Gosto muito de usar a seguinte analogia: se eu jogo lixo no chão, ao invés de jogá-lo na lixeira ou até reciclá-lo, eu estou escolhendo viver em um mundo cheio de lixo, sujo, já que o chão faz parte do meu mundo e do meu universo. O mesmo princípio se aplica a todas as escolhas que fazemos, consciente ou inconscientemente. E isto foi provado através da Física Quântica.
Assim, se quisermos que a nossa vida mude para melhor, temos que repensar todas as nossas atitudes, todas as nossas escolhas e decidirmos quais são as alternativas para uma vida melhor, ou seja, uma Vida Decente.
Tentei pontuar os principais pontos da finalidade deste blog nesta postagem e assim esclarecer melhor a nossa postura!
Comentem, tirem dúvidas, critiquem. Qualquer interação é bem vinda!
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